domingo, 19 de agosto de 2012

Don Juan

Foto: Filme: "Don Juan de Marco"

Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar.

   Sempre sonhei em conhecer o amor. Realmente o desejei tão ardentemente, que sempre estava em febre. Mas... não basta você acreditar no amor, ele precisa acreditar em você. E isso eu nunca achei possível. Como algo que eu não podia ver ou tocar poderia acreditar em mim??? Como eu poderia ser a sua querida? Desisti do amor no minuto seguinte a esse pensamento... foi quando ele esbarrou em  mim.
   Ele fez uma mensura engraçada e boba para se desculpar. Eu ri e ia embora, quando abruptamente ele capturou minha mão e a levou a boca. Quanta ousadia! Eu ia retirar minha mão, quando cai na besteira de olhar nos olhos do cretino. E que olhos! Perdi-me neles no minuto seguinte. Ele tinha os olhos mais tristes e mais cheio de luxuria que alguém vivo poderia ter. Apenas os olhos já te faziam pensar em deixá-lo à vontade...
   Ele me olhava como se eu fosse uma obra de arte e ele estivesse a absorver todos os detalhes dela. Como um pintor apaixonado que nem sabe o que estava a desenhar. Eu não sei como tudo aconteceu, mas no minuto seguinte estávamos conversando e bebendo como se fossemos velhos amigos a gracejar dos outros. E toda a vez que a mão dele libertinamente se insinuava pelo meu braço estendido sobre a mesa, eu sentia minha pele queimar. E céus!!!! Eu o desejava tanto! Eu queria tanto que ele me cobrisse de beijos e me tocasse. Que me fizesse implorar por mais e me desse qualquer tipo de amor. Eu nem mesmo queria saber o seu nome, pois assim seria mais fácil esquecê-lo no dia seguinte. Mas só percebi que eu estava perdida e loucamente apaixonada por um estranho quando ele fechou a porta do meu quarto e ficamos a sós. Apenas dois perdidos, procurando encontrar o amor em qualquer corpo.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Psicose


Foto: Filme: "O Perfume"


Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar

   Vinte, vinte, vinte...
   Mais uma na minha lista! Gosto de garotas ruivas e independentes. Elas me fazem forte; elas me fazem querer matá-las! Nenhuma delas entendem...mas há um demônio maldito dentro de cada uma delas. O vermelho dos seus cabelos indicam a cor do pecado! Eu tenho que eliminar o pecado delas, antes do demônio levar suas almas podres! Podres! Malditas! Mil vezes, malditas!
   Facas! Navalhas! Tesouras! Preciso de algo afiado e poderoso! O demônio está em seus corações...por isso eu arranco. É necessário arrancar! Três aves marias! Mil pai nossos! Padre, padre...cometi um pecado! Deus me perdoará?
   A culpa é delas! De todas elas! Malditas! Satã as adora! As pupilas dos seus olhos! O vermelho, o vermelho do inferno nos seus cabelos! Preciso matá-las! Eliminá-las!
   Mas que droga! O que faço com esse corpo nos meus lençóis?

Chapeuzinho-Vermelho



Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar

   O castelo dele ficava longe o bastante. As ruínas que eram os jardins, transformaram-se com botões vermelhos de uma vida obscura. Uma serpente esverdeada se enrosca aos meus pés pequenos.
   A boca fina dele rasgasse num sorriso malicioso. Ergue a taça numa tentativa de brinde à minha vida. O primeiro gole desce queimando por sua garganta; a minha vida virou sua melhor piada particular. Ergo meu cálice de prata num brinde à morte dele. Ele sorri de novo, mas dessa vez acrescenta uma piscadela rápida, como se dissesse: "Como queira, senhorita. Apenas lembre-se de que é minha."
   Uma fina cicatriz em forma de meia-lua ao final da sobrancelha dele parece queimar. Mas ele já não se importa com a dor. Assim como não se importa em tirar vidas. Seus imensos olhos azuis exercem um fascínio que nem ele sabe. A cor vermelha do meu capuz o deixa levemente irritado; mas acho que ele é "cavalheiro" demais para poder dizer isso em voz alta. Até hoje não sei o que me levou à querê-lo.
   A carne de búfalo é servida por uma das criadas; que some assim que termina a tarefa. Ele lança para mim um olhar de frustação, me fazendo sorrir. Fios do seu cabelo longo e negro caem-lhe no rosto. Sua face está sem expressão desde que me sentei à mesa. Minhas mãos tremem. Ele parece indeciso sobre o que fazer comigo. Se ele me rejeitar, como vou contar aos meus pais que jantei com um assassino? Se ele me aceitar, como vou reagir se ele me tocar?
   Ele parece ler meus pensamentos, sorri. Não importa o que ele fizer, desde que me deixe afundar nessa ilusão surreal e ser feliz como nunca fui em toda a minha vida

sábado, 11 de agosto de 2012

Discagem


Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar

   Ele andava de um lado ao outro pelo extenso corredor deserto. O nome dela borbulhava sua mente sã. Seus passos eram vacilantes; mas havia uma força mais poderosa dentro dele que o trazia à ela. Só que além da força, havia o medo. Medo de magoá-la e de ser magoado. Medo do desconhecido.
   Ela estava jogada na cama, em meio aos lençóis. Mornas lágrimas manchavam sua face; e dúvidas povoavam o seu ser. A cama de casal parecia reclamar alguém mais ali. O travesseiro que ela mantinha entre os dentes, era para não gritar por ele.
   Um casal apaixonado passou por ele no corredor. A ferida que ele trazia no peito duplicou de tamanho. Ele queria tê-la em seus braços. Suas mãos frias tentavam obter força para bater no quarto de hotel dela.
   Ela se encolheu, como se assim fosse se proteger das armadilhas do mundo. Das armadilhas do amor. Ela podia jurar que o cheiro do perfume dele povoava todo o ambiente. Seu celular emitiu um bip agudo.
   As mãos dele suavam enquanto ele discava o número dela. "Estou aqui", ele sussurrou, enquanto libertava sua mente de todos os medos.
   Ela abriu a porta e sorriu.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Lamúrias



Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar

   Não tente me convencer! Não tente jogar o seu pecado em mim! Não tente me dizer o que fazer!
   Nunca fui "um dos melhores". Nunca fui o melhor exemplo. Nunca disse que algum dia amaria novamente.
   Mas você não percebe, pequena criatura? Eu sou egocêntrico demais para me render. Eu sou a presa mais difícil de se obter. Nunca tente obter nada de mim.
   Lamúrias são feitas para os "bons". Os "maus" procuram sempre uma segunda ou terceira opção de pecado. Eu sei onde devo ficar. Eu sei bem o que devo ou não fazer.
   Apague a chama da vela e deixe que meus pensamentos corram soltos na escuridão da minha mente; porque finalmente estou em casa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O Aniversário da Morte


Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar
Em memória de Edgar Allan Poe.

   O aposento estava quase vazio. Havia uma mesa de madeira velha ao centro e seis cadeiras abarrotadas de cupins. As cortinas estavam esfiaspadas, e apresentavam um tom de verde musgo. Havia também um relógio antigo que nunca batia às 11:59. "Apenas meia-noite! Apenas o horário correto." Uma música fúnebre tocava ao fundo. E um bolo negro com uma cruz no meio estava no centro da mesa.
    Ela chegou e sentou-se numa das cadeiras. Aparentava um ar cansado e abatido. "Oras, odeio o meu aniversário! Tenho trabalho à fazer!" -ela sempre resmungava isso no mesmo dia do ano.; até os minutos para ela falar isso eram contados.
   Uma luz vermelha entrava pela janela dos fundos. "Bem que a luz poderia ser roxa!" -ela nunca se conformava com a cor da luz.
   A Morte levantou-se lentamente; apoiou sua foice numa cadeira; e olhou seu reflexo num espelho quebrado que ela trazia consigo. "Nossa! Como estou feia! E olha essa palidez!", ela resmungou; tinha dito isso ano passado.
   Ela sentou-se novamente; agora reparara que a sala estava vazia. Viu o bolo; ano passado era em forma de caveira; esse ano em forma de caixão. "Isso é tão tentador! Ugh!" -ela revirou os olhos; isto estava tão monótono...
   Mas para a Morte ainda faltava mais alguma coisa para o seu aniversário. Mas...o quê!? Então sem querer ela acabou reparando nas outras cadeiras. "Oras! Agora eu sei o que falta! Não há aniversários sem convidados!" -ela disse isso para si mesma sorrindo. Estava na hora de ir buscá-los; assim como no ano passado.
   A Morte se levantou; apanhou sua foice e saiu da sala lentamente.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Arsenal


Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar
(Dedicado ao Professor Pimenta...e o seu comando de "Responde! Responde!")

   Deus! O que eu vejo? Será que os meus olhos estão me traindo? Por que tantos corpos no chão? ... Por que tantas vidas perdidas? ... Por que tantos pais sem seus filhos? ... Por que o mundo se tornou um arsenal de guerra?
   Eu que sou um soldado, treinado para tudo. Estou chorando ao ver o desespero de uma mãe que acabou perdendo seu único filho.
   Tantas dores causadas por um pedaço de chão. Um chão que cheira desesperança! Por Deus! O governo não poderia cuidar melhor de todas as vidas que estão em suas mãos?
   Crianças...crianças estão morrendo! Onde foi parar nosso futuro? O mundo não é mais um lugar para se morar.
   Tenho medo de nunca mais ver minha mulher e meus filhos. A voz dela por telefone é chorosa...quer que eu volte. Eu quero voltar, mas também quero um mundo melhor para os meus filhos! Quero que eles não se preocupem com coisas que eu me preocupo! Por isso, permaneço nesse inferno...Por amor à eles.