terça-feira, 14 de agosto de 2012

Chapeuzinho-Vermelho



Autora: Ana Paula Damasceno de Aguiar

   O castelo dele ficava longe o bastante. As ruínas que eram os jardins, transformaram-se com botões vermelhos de uma vida obscura. Uma serpente esverdeada se enrosca aos meus pés pequenos.
   A boca fina dele rasgasse num sorriso malicioso. Ergue a taça numa tentativa de brinde à minha vida. O primeiro gole desce queimando por sua garganta; a minha vida virou sua melhor piada particular. Ergo meu cálice de prata num brinde à morte dele. Ele sorri de novo, mas dessa vez acrescenta uma piscadela rápida, como se dissesse: "Como queira, senhorita. Apenas lembre-se de que é minha."
   Uma fina cicatriz em forma de meia-lua ao final da sobrancelha dele parece queimar. Mas ele já não se importa com a dor. Assim como não se importa em tirar vidas. Seus imensos olhos azuis exercem um fascínio que nem ele sabe. A cor vermelha do meu capuz o deixa levemente irritado; mas acho que ele é "cavalheiro" demais para poder dizer isso em voz alta. Até hoje não sei o que me levou à querê-lo.
   A carne de búfalo é servida por uma das criadas; que some assim que termina a tarefa. Ele lança para mim um olhar de frustação, me fazendo sorrir. Fios do seu cabelo longo e negro caem-lhe no rosto. Sua face está sem expressão desde que me sentei à mesa. Minhas mãos tremem. Ele parece indeciso sobre o que fazer comigo. Se ele me rejeitar, como vou contar aos meus pais que jantei com um assassino? Se ele me aceitar, como vou reagir se ele me tocar?
   Ele parece ler meus pensamentos, sorri. Não importa o que ele fizer, desde que me deixe afundar nessa ilusão surreal e ser feliz como nunca fui em toda a minha vida

Um comentário:

  1. Danada! Essa Chapeuzinho que ir a lugares bem obscuros e profundos, se que me intende ;-)

    ResponderExcluir