Autora: Ana Paula
Damasceno de Aguiar
Oi. Meu nome é Sarrah, tenho nove anos de
idade. Moro aqui na África. Mamãe e papai se esforçam para nos dar o que comer.
Mas eu acho que Deus nos esqueceu. Tenho mais quatro irmãos, o bebê está
doente... ele tem fome!
Eu não vou para a escola, eu trabalho
lavando roupas no rio. Ganho algumas moedas, é pouco, mas ajuda na compra de
comida. Água, falta muita água! Às vezes nem tomamos... é difícil tomarmos
banho. Pois se tomarmos, podemos ficar até cinco dias sem água alguma.
Lourrette, minha irmã mais velha, anda mais
de sete quilômetros para pegar água, isso quando tem. Só que essa água não é
transparente, há barro nela. Muitos torcem o nariz quando nos vêem tomando essa
água. Mas ela é a única que nós temos!
Vejo mamãe chorar todos os dias. Muitas
vezes ela não come, para eu nós possamos comer. Uma refeição por dia. Às vezes
nem isso! Eu choro também. Mas o que eu posso fazer? Eu queria trabalhar, para
ganhar um monte de dinheiro para comprar comida e muita água. Água que não
tenha cheiro. Água que não tenha cor.
Nós não temos brinquedos. Os estrangeiros
que vêm aqui acham que somos atrações para os divertir. Será por que somos
negros? E pobres? É a cor que faz a pessoa?
Apesar disso tudo, ontem eu sonhei que o
mundo seria algum dia um lugar melhor.
Eu tinha muita comida no prato. O bebê não estava doente. Papai e mamãe
sorriam. E eu sabia escrever, pois essa carta só foi possível graças a uma
pessoa boa, que se importou com a gente, apesar de ser tão pobre quanto nós.
Com amor,
Sarrah, para todo o mundo!