Autora: Ana Paula
Damasceno de Aguiar
Há vários anos busco
o amor em cada beco sem saída que acabo me deparando. Lutei contra ele de todas
as formas possíveis. Imaginei-me imune ao seu poder. Imaginei-me sendo
portadora desse vírus e o espalhando pelo mundo todo. Pois a verdade é que
sempre acabo amando o mundo inteiro, mesmo não amando ninguém específico. Não
me prendo a uma voz. Não fico perdida nas cores bonitas dos seus olhos. Fico
com a sensação de que eu não posso amar alguém, porque eu não sei como se faz
isso.
Andei durante vinte anos de
uma trajetória longa e sincera, procurando alguém em que eu pudesse me prender.
Alguém que eu desejasse ter vários filhos e que me mantivesse feliz e aquecida
no calor dos seus braços durante a minha curta existência. Alguém que não teria
medo de dizer que me ama, mesmo não sabendo da minha resposta. Alguém que
gostasse de me ver sorrir, e que ficasse feliz por ser o causador disso. Mas
depois de algumas tentativas frustradas desisti. Eu sou livre demais. Eu amo
demais. Eu sou o amor que eu procurava. Ele está bem dentro de mim.
Então eu nunca vou acenar
enquanto ele vai embora da minha vida. Nem nunca vou escutar palavras
carinhosas, sussurradas falsamente, como um amante faria. Eu não vou precisar
ligar no dia seguinte. Pois ninguém vai tropeçar no meu caminho e me dizer que
veio me fazer feliz. Eu posso fazer isso por mim, porque não consigo me prender
e tentar amar alguém. Meu medo me impediu de dizer qualquer coisa que me torne
sensível demais. Esse amor que eu sinto por algum estranho, que vive em algum
lugar do mundo, do qual eu nunca saberei a existência, vai viver dentro de mim,
como um segredo que será levado para o túmulo.